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Daniel Lacalle | Os Mercados Não Estão Preparados Para uma Crise

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A pergunta mais comum entre os investidoreshoje em dia é como identificar quando os preços dos ativos estão nas mínimaspara comprá-los nestes níveis (expressão conhecida como “buy the dip”). Pouquíssimosparticipantes do mercado parecem estar preocupados com uma crise, uma recessãoprofunda, ou, muito menos, com uma ameaça nuclear de uma prolongada guerra naUcrânia.


No entanto, esses três cenários não sãoinimagináveis. Em seu Global Data Watch de 17 de junho, o JP Morgan disse queseu modelo interno mostra apenas 25% de chance de recessão no próximo ano. Alémdisto, esclarecem que a probabilidade aumentaria para 40% se as condições decrédito fossem atualizadas.


É uma probabilidade baixa, certo? Devemoslembrar que em janeiro de 2008 a Reuters informou que “as expectativas para odesempenho mais fraco dos gastos do consumidor em 17 anos durante 2008mantinham as chances de uma recessão em quase 40%”.


O Deutsche Bank mostra que o mercado este anocaiu em linha com a mediana das recessões do pós-II Guerra. No entanto, amediana corrigida é diminuída no período 1948-1980. Em 2007-2009, os mercadoscaíram o dobro do que vimos em 2022 e devemos considerar que 2020-21 foi umperíodo extraordinário de emissão massiva de dinheiro, com o crescimento globalda oferta monetária subindo mais de 20%, o que criou um enorme aumentosubsequente das ações e aumento dos preços dos títulos. O que podemos dizer comsegurança é que o mercado não está nem remotamente a descontar uma crise aoestilo de 2008 e muito menos uma ameaça nuclear. Estes seriam eventoscatastróficos que a maioria dos investidores simplesmente não quer considerar,mesmo como uma opção distante, pois seria muito doloroso.


Pelas conversas com colegas, tenho a sensaçãode que o posicionamento de mercado continua excecionalmente otimista. Osinvestidores aumentaram a exposição ao caixa, mas continuam com uma visãopositiva do ciclo económico. Múltiplos de mercado [Nota do editor: múltiplos demercado são ferramentas quantitativas para analisar ações de empresas; conheçaos principais múltiplos aqui] e revisões de lucros indicam que a média de consenso espera uma reduçãomodesta da demanda por ações vinda da inflação (expansão monetária). Às vezes,parece que os participantes do mercado estão a apostar em quando os bancoscentrais mudarão sua política de volta para taxas de juro negativas e expansãoda base monetária (para comprar os ativos financeiros).


A dívida de margem [Nota do editor: dívida demargem é uma dívida que investidores podem contrair das corretoras de açõespara comprar as ações; veja detalhes aqui] certamente nos diz que estamos muito longe da capitulação [Nota do editor:capitulação é uma expressão usada no mercado financeiro para referir-se aoponto em que os investidores vendem os ativos, basicamente desistindo dos ativose da esperança de recuperar o ganho perdido]. A dívida de margem caiu para US$753 mil milhões, de acordo com Finra, de um pico de outubro de 2021 de US$ 936 milmilhões. Ainda é um valor muito alto.


As estimativas de consenso (dados daRefinitiv) ainda mostram níveis muito saudáveis de crescimento dos lucros. Olucro por ação do S&P 500 para 2022 permanece em +10.8%, mas asexpectativas para 2023 continuam a refletir um crescimento otimista de +8.1%,com receita acima de 4%. No caso da Europa, uma iminente recessão dos lucrosestá a começar a ser incorporada às expectativas de crescimento dos lucros. Amiragem de 2022 com +41% de estimativas de crescimento de lucros leva quaseimediatamente a uma previsão de -5-5% para o segundo trimestre de 2023…


Por que devemos ficar preocupados? Porquequase todas as previsões mencionadas anteriormente baseiam-se na queda rápidada taxa de inflação ao consumidor e na recuperação da atividade económica noquarto trimestre de 2022. Vimos enormes revisões negativas nos lucros, apesardas suposições macroeconómicas claramente benignas que informam estas receitase lucros. Imagine se estes analistas incluíssem uma recessão profunda em seusnúmeros.


Tantos anos de mentalidade de “buy the dip”impulsionada pela expansão monetária dos bancos centrais fizeram com que todosnós assumíssemos um risco significativamente maior do percebíamos. Existemagora duas gerações de gestores de carteiras que não viram nada além depolíticas monetárias expansionistas. Por isto, é da nossa natureza esperar queos bancos centrais nos salvem de más decisões de investimento em algum momento,esperançosamente antes que os números do final do ano ditem o bónus. É por istoque a principal questão hoje em dia é “quando os bancos centrais mudarão derumo?” em vez de “o que aconteceria com meu portfólio se os mercados afundassemdevido a uma crise severa?”. A resposta seria muito assustadora.


Isto significa que não há oportunidades deinvestimento? Não. Mas um grande investidor amigo meu me lembrou neste fim desemana que anos de compra de fundos indexados e ETF’s [Nota do editor: veja oque são ETF’s, inclusive ETF’s de ouro, aqui] para se beneficiar de um mercado em constante ascensão podem levar a um longoperíodo de venda destes mesmos produtos. Apostas fortemente direcionais e altaexposição beta [Nota do editor: beta é o retorno de um portfólio que pode seratribuído aos retornos gerais do mercado; ou seja, é um retorno de correlaçãopositiva com o mercado em geral, por exemplo, um índice de ações] baseada no “fearof missing out (FOMO)” [Nota do editor: FOMO é uma expressão usada no mercadofinanceiro para referir-se a ansiedade que o investidor sente quando vê outrosinvestidores a lucrarem com a alta de um ativo e ele ainda não está a fazê-lo]podem levar rapidamente a um grande desmoronamento da maior mercado de alta dahistória. Não lute contra o Federal Reserve – Fed (o banco central dos EUA) atéque o Fed lute contra você.



Artigo originalmente publicado no site doDaniel Lacalle.


Tradução e edição de André Marques.


Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestorde fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escapefrom the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). Éprofessor de economia na IE Business School em Madrid.


Nota: As opiniões expressas neste artigo nãonecessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.

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